Cidade
Paula Souza
Cidade

Paula Souza confunde os expectadores dos seus trabalhos de uma maneira especialmente única. A experiência de estar em contato com um de seus bordados, ou uma de suas colagens, muitas vezes faz-nos perguntar se não estamos, na verdade, assistindo a um filme, onde acompanhamos a trajetória de um personagem específico com seus dramas pessoais e suas paixões. É possível inclusive se pegar a espera de uma conclusão, de um final feliz, de um arco de redenção... Embora seja possível que, ao mesmo tempo, o expectador se pergunte se ele não está diante de uma obra sobre ele mesmo (confesso que já me peguei na situação de pensar que Paula havia roubado uma memória minha para realizar um bordado) ou se talvez tenha ocorrido um engano e, na verdade, não há personagem algum e Paula está somente falando de si mesma e seus trabalhos são absolutamente autobiográficos.
Eu posso narrar essa situação com bastante clareza porque felizmente tive a oportunidade de vivencia-las algumas vezes, acompanhando a produção e exposição de seus trabalhos o mais perto possível. Em “Cidade” ela reúne alguns trabalhos produzidos nos últimos anos e propõe esse mergulho nessas histórias (as ficcionais, as de quem assiste e as dela mesma) em um ambiente que torna tudo mais confuso – e talvez isso seja interessante – que é o ambiente virtual. A sensibilidade dos trabalhos, dos textos que eles carregam, o tempo que os bordados propõem, todas essas características marcantes em sua produção entram em conflito com a dinâmica em que opera tudo e qualquer coisa no espaço da internet. Isso inclusive me faz pensar muito no nome eleito para e exposição; Cidade, nome que parte de um dos trabalhos (Cidade, 2021), um bordado ocupado por um texto que narra uma situação específica vivida por personagens de diferentes famílias, mas que também descreve esse espaço geográfico que pode reunir em si as histórias de até milhões de pessoas, que não necessariamente é – e quase nunca é – um lugar coerente.

Texto escrito por Pedro Gondim.